Madre Maurina (1924-2011), irmã franciscana, era diretora do orfanato Lar Santana em Ribeirão Preto quando foi presa em 1969. Acusada de subversão, ganhou a liberdade depois do sequestro do embaixador japonês pela VPR (Vanguarda Armada Revolucionária) em 1970, sendo banida para o México, onde viveu 14 anos. Foi a única religiosa presa e torturada durante a ditadura militar no Brasil.
De uma família de 12 irmãos, sendo 4 deles religiosos, foi o caso mais conhecido de que a repressão atingiu a tudo e a todos, indiscriminadamente. A acusação inicial era de que era membro da FALN (Forças Armadas de Libertação Nacional) – por ter cedido uma sala da instituição religiosa para reuniões dos estudantes do MEJ (Movimento Estudantil Jovem).
No livro há cartas de Madre Maurina, texto de sua irmã, a freira beneditina Maria, depoimento do irmão, Frei Manoel, à Comissão da Verdade da subsecção da OAB de Ribeirão Preto em 2014, uma reportagem e uma entrevista com a madre realizada pelo jornalista Luis Eblak para a “Folha de S.Paulo” em 1998, um artigo do escritor Antonio Calado. Há outros depoimentos, entre eles o de Áurea Moretti e Mario Lorenzato, estudantes que foram presos junto com a religiosa.
Madre Maurina foi interrogada pelo delegado-torturador Sergio Paranhos Fleury, da OBAN, espancada e torturada no DOPS, sofreu violências morais e psicológicas. Em uma das sessões, os torturadores, completamente nus, rasgaram a sua blusa e deram choque elétrico nos seios, como confirma o irmão, Frei Manoel. Esteve no Presidio Tiradentes e na Penitenciária de Tremembé. D. Felicio Cunha, bispo de Ribeirão Preto, excomungou dois delegados, Renato Ribeiro Soares e Miguel Lamano. O apoio e intervenção do arcebispo de S.Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, foi importante para preservar a vida de Madre Maurina.