Introdução: A função tiroideana pode ser alterada de diversas maneiras durante a gestação, seja pelo aumento de gonadotrofina coriônica humana (HCG), ou pelos níveis suprafisiológicos de estradiol observados em procedientos de Fertilização In Vitro (FIV) e Injeção Intracitoplasmática de Espermatozóides (ICSI). O hormônio tireoestimulante (TSH) possui sítios de ligação no estroma ovariano e endométrio humano, com possível influência nos resultados reprodutivos. Evidências sugerem que maiores níveis séricos de TSH, mesmo que em mulheres eutireoideas e sem doenças autoimunes, predispõem desfechos gestacionais adversos, sendo recomendado em diretrizes internacionais valores menores que 2,5 mlU/L, apesar do valor de referência normal ser entre 0,5 e 4,5 mlU/L.
Objetivo: Avaliar o impacto de valores de TSH nos desfechos reprodutivos de mulheres eutireoideas sem doenças autoimunes submetidas à FIV/ICSI.
Métodos: O presente estudo se alicerça em dois brasços de pesquisa: uma coorte retrospectiva de mulheres submetidas à FIV/ICSI e uma revisão sistemática com metanálise acerca do tema. As participantes do estudo foram divididas em dois grupos: TSH =2,5 mlU/L grupo (n=211) e TSH >2,5 mlU/L grupo (n=45) e os desfechos clínicos, hormonais e reprodutivos foram comparados entre os grupos. Adicionalmente, uma revisão sistemática com metanálise que seguiu o protocolo PRISMA e foi registrada no PROSPERO (CRD: 42022306967) foi realizada nas bases PubMed/MEDLINE, EMBASE e SciELO sem restrições de tempo ou idioma, por artigos que comparassem grupos de TSH denominados low TSH (0,5-2,49 mlU/L) e high TSH (2,5-4,5 mlU/L).
Resultados: Não foi observada diferença estatística quanto aos desfechos gestacionais entre os grupos TSH =2,5 mlU/L e >2,5 mlU/L (p=0.982). Ao comparar as médias de TSH entre as pacientes com desfechos gestacionais positivos negativos, também não foi observada qualquer diferença estatisticamente significante (p=0.27). Na revisão sistemática com metanálise foram encontrados 17 estudos de 2006-2022, que juntamente ao braço da pesquisa retrospectiva original, totalizou 9.830 mulheres submetidas à FIV/ICSI. Ao comparar as proporções de gravidez clínica entre os grupos de TSH, não se encontrou diferença significativa. (RR 0,93, 95% CI 0,80- 1,08), com alta heterogeneidade entre os estudos (I²: 87%; p2: 0,0544; p < 0.01). O número de nascidos vivos também não foi estatisticamente diferente entre os grupos, mesmo com tendência à maior frequência no grupo high TSH (RR 0,96, 95% CI 0,90- 1,02).
Conclusão: Os níveis de TSH dentro dos limites de normalidade não impactaram as taxas de gravidez e de nascidos vivos em mulheres submetidas à tratamento de reprodução assistida.